domingo, 22 de maio de 2011

A melhor profissão do mundo!

Faça o que fizer, faça sorrindo! (eu aos 14 anos)

Com certeza não é a minha, isso na opinião de terceiros, pois eu gosto muito do que faço, e do que já fiz.
Muitos começam a pensar em seguir alguma carreira, trabalhar, exercer uma profissão, que seja vender sua mão-de-obra, apenas após os 18 anos, até essa idade estão mais preocupados em sua vida acadêmica, em completar o ensino fundamental e médio, fazer cursos técnicos, SENAI, curso de idiomas e outros.
Eu muito diferente disso, me antecipei praticamente em uma década e já aos 9 anos estava ganhando meus R$ 10,00 diários, um garoto de 9 anos ganhando 10 reais diários, já era grande coisa, isso no contexto geral, pois morando no Morumbi/Jardins/Alphaville se esse mesmo garoto ganhasse R$ 100,00 diários talvez não fosse o suficiente para suprir suas "necessidades".



  
Desde quando era criança sempre gostei de trabalhar, fosse no que fosse, o importante era gerar renda/receita, sempre almejando independência financeira, pois pra mim, não era plausível depender dos valores cedidos pelos pais para comprar roupas, jogos de vídeo game, peças pra equipar a bike, guloseimas na doceria e o que mais um garoto da faixa etária pudesse querer.
 
Por isso sempre procurei meios de ganhar dinheiro, eu gostava muito de ajudar meu pai em suas construções e reformas, isso mesmo meu pai é PEDREIRO, durante 14 anos trabalhou em diversas empresas da construção civil, inicialmente na ENCOL uma das maiores empresas do Brasil no ramo de construção civil nas décadas de 80, 90, justamente nessa última a empresa veio a falência por irregularidades administrativas e deixou 700 prédios inacabados espalhados pelo Brasil, trabalhou em diversas outras empresas dentre elas uma bem conhecida e que você já deve ter visto alguma propaganda ou anúncio, a CYRELA Brazil Realty grande empresa do atual setor imobiliário brasileiro.

Mesmo quando trabalhava registrado nas citadas empresas frequentemente amigos o contratavam para construções e reformas de suas residências, e é ai que eu entro, aos finais de semana, feriado, férias e qualquer outro dia que não tivesse aula, lá estava eu empenhado na minha função de ajudante de pedreiro, servente ou na linguagem dos próprios peões o OREIA SECA, e apesar de ser uma profissão digamos "mal vista", é algo que fiz e faço, muito feliz, creio que muitos que estão lendo esses post dificilmente assumiriam entre amigos que o pai é pedreiro e que nos finais de semana o ajuda, ainda mais nessa sociedade capitalista e preconceituosa em que vivemos.

Apesar das adversidades eu gosto muito de trabalhar com meu pai, e nunca neguei isso pra ninguém, pois trabalhar em obra é como trabalhar num circo apenas com palhaços, é muita comédia, são varias determinantes e todas juntas formam um ser completamente cômico, primeiro que maioria dos pedreiros se você for observar são de origem nordestina, e nordestino só em falar já faz você rir, em segundo lugar são muito atrapalhados, exemplo disso é que em uma pintura, meu pai ao tentar pegar o celular do bolso para atender, ao invés de levar ao ouvido, sem querer deixou escorregar da mão e o aparelho foi direto na lata de tinta, a sorte é que depois de uma lavada o celular ainda estava funcionando, essa mesma sorte não teve um outro amigo de obra, o sujeito deixou o celular no bolso da camisa e ao se ajoelhar para mexer a tinta "tibum" o aparelho resolveu dar um mergulho, ao lavar o aparelho, lá se foi o seu telefone móvel, queimou, mas também já tava velho, estava na hora de trocar mesmo! mas que foi motivo de risada foi, os dois casos, não pelo o acontecimento e sim pela cara de desapontado de cada um ao ver seu o aparelho mergulhando na tinta e depois os xingamentos em forma de expressar o descontento pelo o acontecido.

Outra característica marcante de pedreiros são suas famosas cantadas, os caras são profissa na arte de seduzir, veja os exemplos...
Tem uma cara que trabalha conosco e sempre que ele vê duas mulheres passando ele fala: “Tanto uma e COMO a outra, a duas são muito boas!" (com ênfase no COMO).
Outros exemplos, visto nas obras:

Ahhhh se eu pudesse! E meu dinheiro desse!
Com uma bunda dessa tá convidada pra cagar lá em casa!
Você é o ovo que faltava na minha marmita!
Terra boa pra plantar mandioca!
Ei! Boneca! Vem aqui dar uma chapiscada, veiiin?!?
Você é tão quente que chega a derreter o plástico da minha cueca...
São tantas que se for citar aqui, vai levar uma semana só digitando cantada...

E ainda têm mais, muitos são impertinentes, certa vez o mesmo peão citado na cantada acima estava jogando papo fora com outro desocupado, cozinhando o galo, meu pai ao se deparar com a situação foi verificar o que estava ocorrendo, ao se aproximar da dupla perguntou para o primeiro: “Posso saber o quê vocês estão fazendo?” e na maior cara-de-pau obteve a resposta: “Nada!” olhou para o outro e questionou: “E você?” esse com uma insolência ainda maior que o primeiro respondeu: “Estou ajudando ele”.

Outra coisa interessante nas obras, é a capacidade de improviso que a peãozada tem, são as famosas gambiarras, pedreiro não passa aperto, pois pra tudo ele tem uma solução, exemplos clássicos acontecem na hora do almoço, é muito comum o peão esquecer a colher/garfo na hora de comer os marmitex ou o vulgo bandeco, e acreditem isso não é problema, pois eles tem capacidade de fazer uma colher com a própria tampa da marmita, é simples, é necessário apenas dobrar aquela tampa de alumínio até que se forme algo semelhante a um pedaço de pizza, depois é só mandar brasa no rango, se por algum motivo não for possível utilizar a tampa, sem problemas, eles utilizam um pedaço de cano, uma tampa de lata de tinta cortada de modo a parecer com uma colher, um pedaço de madeira, ficar sem comer eles não ficam!

E se não tiver copo, mesmo principio de improviso, o mais comum é uso do próprio capacete como recipiente para beber água, ou o fundo de uma garrafa de refrigerante ou qualquer outra coisa que se pareça com um copo, os menos desprovidos de inteligência, utilizam o simples método universal, vão até uma torneira e formam com a mão uma concha e assim bebem água de uma forma simples e saudável!

Reza a lenda que se você beber água no capacete ou após um cagão o individuo se limpar com o papel do saco de cimento, o sujeito nunca mais consegue outra profissão, é pedreiro pro resto da vida! Isso segundo meu pai!

E há muitas outras coisas engraçadas que só acontecem na obra.

Há 4 anos meu pai parou de trabalhar em empresas e decidiu abrir a sua própria, e atualmente trabalha como autônomo em prestação de serviços na região do ABC e grande São Paulo, se hoje alguém me pergunta com que eu trabalho, eu falo que trabalho com meu pai e que ele tem uma empresa de construção civil, não que ele tenha deixado de ser pedreiro e eu deixado de ser OREIA SECA, mas falando que ele é empresário a visão que o ouvinte tem e bem mais valorizada do que se eu falasse que ele é apenas pedreiro e que eu trabalho como ajudante! temos que ser esperto afinal!

E não foi só na área de pedreragem que eu ganhei dinheiro, num passado distante, por volta também lá dos 9, 10 anos, eu já cheguei vender gelinho no paço municipal de Mauá, essa ninguém sabia! mas antigamente e ainda hoje se ver, essas casas que vendem gelinho, geladinho e etc. (aquele sorvete em saquinho que parece um preservativo) pois é, minha casa era uma das que vendia, e certa vez eu resolvi expandir os negócios, comprei uma caixa térmica a enchi com vários gelinhos de vários sabores e sai por ai vendendo, "Vai um gelinho ai tio/tia?" bem nessas, e olha que eu vendia bem, cheguei ir uns 2 meses durantes os sábados e domingos, mas depois não fui mais, minha mãe parou de fazer ai desisti dos negócios, por falar em negócios trabalhei também na área de negociação bancária durante 2 anos, dessa vez como estágio em meio período, fiquei nessa empresa dos 16 até o final do ano passado, e agora tô 5 meses na pedreragem de novo, enfim pra mim o quê importa é o dinheiro no bolso, e não como ganha-lo, desde que seja digno!

Ah e eu não continuo ganhando as mesmas diárias de quando tinha apenas 9 anos, menos mal!
Agora com o inicio da faculdade, provavelmente não dará mais pra eu trabalhar com meu pai, e serei um universitário vagabundo e sem dinheiro, se você souber onde estiver contratando, me avise por favor :)

Pedreiro, segundo o Desciclopédia: Aqui!

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3 comentários:

  1. Com esse post quero também conscientizar os leitores sobre a discriminação que existe sobre os trabalhadores da construção civil, afinal se não fosse esses trabalhadores, não teriamos onde morar, por onde andar com nosso carros, onde levar nossos familiares quando estão doentes, e nem onde estudarmos! Por isso dê o valor que a profissão merece!

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  2. gostei muito.......
    Parabéns Well por sua humildade!!!!!!

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